Sumário
Editorial   5

Artigos
Utopias, Distopias e o Processo de Individuação em Filosofia e Literatura
Walter Boechat   7

Carl Gustav Jung como Fenômeno Histórico-Cultural
Luigi Zoja   18

O Ritual como Continente Psíquico da Transformação
Elizabeth Bauch Zimmermann   32

Tempo e Alma nos Quatro Quartetos de T. S. Eliot
Gustavo Barcellos   39

Novas Questões em Psicologia Clínica: o Sujeito Contemporâneo e a Crise da Subjetividade
Gelson Luis Roberto   68

A Iluminação Junguiana do Cinema
John Beebe   79

Alquimia: Arte do Tempo
Renara Wenth   88

Educar Visando a Individuação
Priscila Menegon Castrucci Caviglia   104

A Fantasia como Função Psíquica: o Substrato da Criatividade Carlos Alberto Corrêa Salles   114

O Futuro da Psicoterapia – Reflexões e Propostas
Paula Pantoja Boechat   125

Entrevista
Uma Conversa com Wolfgang Gieguerich   59

Depoimento
Uma Breve História da Associação Junguiana do Brasil
Glauco Ulson   133

Resenhas
Dogville
Paula Perrone   139

Dolls
Acací de Alcantara   142

Mongólia
Silvia Graubart   145

Malvina McNeill (1920 – 2005)   147

Orientações aos Autores para Publicação   148

UTOPIAS, DISTOPIAS E O PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO EM FILOSOFIA E LITERATURA  – Walter Boechat

Sinopse: O presente ensaio trata da tradição arquetípica da sociedade utópica desde Platão e sua obra A República, passando por Thomas More, Aldous Huxley, com Admirável Mundo Novo e chegando até aos diversos elementos da moderna literatura do conto fantástico e da ficção científica. Ainda procura-se refletir sobre as influências da utopia da cidade ideal como fator importante na organização na personalidade do sujeito da modernidade e as influências do mito do andróide na sociedade contemporânea.

CARL GUSTAV JUNG COMO FENÔMENO HISTÓRICO-CULTURAL – Luigi Zoya

Sinopse: Este artigo contrapõe às forças determinantes do século XX — nacionalismo, socialismo, capitalismo, tecnicismo e globalização — a importância da psicanálise, que influenciou toda uma época, e a introdução do relativismo cultural na psicologia, a partir de Jung. Tece ainda uma crítica ao modelo médico de estudo da psique individual, apontando a interdependência entre o indivíduo, a cultura e a história, e recrimina, de forma insidiosa, a atitude dos neo-junguianos da escola evolucionista, muito mais orientada na direção da busca de melhoria, eficiência e brevidade, do que rumo a um lento processo de arqueologia da profundidade, que privilegie a “psico-diversidade”, resgate valores morais e situe o homem em meio à complexidade histórico-cultural na qual está imerso.

O RITUAL COMO CONTINENTE PSÍQUICO DA TRANSFORMAÇÃO – Elisabeth Bauch Zimmermann

Sinopse: O desenrolar da vida humana se articula em fases definidas que exigem comportamentos adequados. A passagem de uma fase de vida para outra traz modificações e conseqüentes crises, sejam elas grandes ou pequenas. Durante esses acontecimentos muitas sociedades celebram rituais diferenciados que têm o objetivo de ajudar o indivíduo a superar as crises. As atuações ritualísticas, tanto entre os povos primitivos como para o homem contemporâneo, tem um propósito religioso, baseando se em temas mitológicos e arquetípicos; expressam suas mensagens simbolicamente e envolvem totalmente o indivíduo. Transmitem uma sensação de significado elevado para este e, ao mesmo tempo, apóiam-se em representações adequadas ao espírito dos tempos. Seja qual for o contexto da vivência ritualística, vida moderna ou vida primitiva, a transformação alcançada pode significar uma ampliação de consciência, uma mudança estrutural da personalidade ou o ingresso num novo status de vida na comunidade, promovendo o amadurecimento do indivíduo.

TEMPO E ALMA NOS QUATRO QUARTETOS DE T. S. ELIOT – Gustavo Barcellos

Sinopse: O artigo propõe uma breve apresentação da poesia de T. S. Eliot através do exame de seu último e mais importante poema longo, Quatro Quartetos. O poema de Eliot, como excepcional obra de arte que é, abre-se, em sua complexidade multifacetada, a várias leituras, desde as de cunho mais propriamente religioso ou metafísico, até as que o abordam do ponto de vista mais estrutural. Aquelas que dão ênfase e que nele vêm uma exploração do mito do significado e, portanto, da experiência do Self, foram sempre as preferidas pelos junguianos. O artigo dá preferência à questão do tempo, principalmente por concordar com a maioria dos críticos literários mais importantes da obra de Eliot quando caracterizam esse seu último poema — quase uma espécie de testamento artístico e humano — como uma grande meditação sobre o tempo.

NOVAS QUESTÕES EM PSICOLOGIA CLÍNICA: O SUJEITO CONTEMPORÂNEO E A CRISE DA SUBJETIVIDADE – Gelson Luis Roberto

Sinopse: Este artigo pretende contextualizar algumas questões da clínica  psicológica, realizando uma reflexão sobre o universo junguiano em confronto com os aspectos que envolvem a subjetividade pós-moderna e com a própria idéia de subjetividade. Para isso, importa reconhecer os vetores epistemológicos na formação dos conceitos psicológicos junguianos e das possíveis colaborações para uma clínica que recupere a idéia de alma em todas as suas implicações. O artigo leva em consideração a necessidade do rompimento paradigmático do modelo atual em favor de uma dimensão multiexistencial. Com isso, pretende-se também estabelecer um sistema terapêutico baseado na idéia de imaginação criadora, apresentada dentro de um espaço existencial baseado na capacidade de conexão. O resultado é uma proposta terapêutica baseada na metáfora de rede a na força expressiva inerente da psique.

A ILUMINAÇÃO JUNGUIANA DO CINEMA –  John Beebe
Sinopse: O cinema, visto como um impulso de explorar e realizar a psique, é o tema deste artigo. Por meio de seus roteiros reproduzem-se a dinâmica e os conflitos que se agitam por trás da superfície das personagens, visualizam-se lugares específicos para onde viajam os protagonistas, revelam-se pontos de vista conscientes justapostos a visualizações e potencialidades inconscientes, compõem-se diálogos de fantasia ou esforços para controlá-las ou superá-las. A partir desta arte, torna-se visível aquilo que anteriormente tinha sido obscuro para a representação consciente: o movimento de indivíduos em suas vidas através do tempo. Essas constatações, entremeadas por conceitos da psicologia analítica, e ilustradas por meio de exemplos de filmes conhecidos de todos mostram, ainda, o potencial do cinema como um meio para a criação de consciência.

ALQUIMIA: ARTE DO TEMPO – Renata Wenth

Sinopse: Este artigo observa o Tempo sob diversas perspectivas no que tange às suas relações com a alquimia: os estudos de Jung sobre alquimia surgem em um tempo maduro de sua obra, bem como fornecem ao pensamento de Jung um lugar no tempo histórico. O tempo enquanto arquétipo é visto também na alquimia em suas formas lineares e cíclicas: a passagem do tempo cronológico das operações alquímicas e o tempo urobórico na eternidade da pedra alquímica, já presente na matéria-prima. Uma analogia para as relações entre o tempo da consciência e a atemporalidade do inconsciente, uma coniunctio ego e Self. Através de pesquisas teóricas o autor ressalta os alquimistas enquanto artífices do tempo, recriando, acelerando, alterando em laboratório aquilo que na natureza demoraria muito mais tempo para nascer. Sempre traçando um paralelo entre a alquimia e o processo psicoterápico.

EDUCAR VISANDO A INDIVIDUAÇÃO –  Priscila Menegon Castrucci Caviglia

Sinopse: Este artigo traça um paralelo entre o Si-mesmo como educador arquetípico da consciência e a forma como Deus educa o homem no mito judaico-cristão. A tônica recai sobre a observação desse modelo – uma relação dinâmica e transformadora entre Deus e homem – e sua incidência nas várias fases de criação, alimentação e condução do ego rumo à individuação, desde a primeira infância. Conclui, ao final, que assim como no mito “Deus se faz homem” e ensina a amar, na segunda metade da vida o educador passa a ser reconhecido como uma instância interior, que convida a fazer escolhas pessoais entre bem e mal, certo e errado, com base no amor que reúne o Eu, o Outro e a missão designada pelo Si-mesmo.

A FANTASIA COMO FUNÇÃO PSÍQUICA O SUBSTRATO DA CRIATIVIDADE  Carlos Alberto Corrêa Salles

Sinopse: Debates sobre a evolução do conceito de fantasia como função criativa, terapêutica e prospectiva na personalidade. Sobre a evolução dos conceitos de mito e realidade na obra de Jung, no Fedro de Platão e no conto, Rashomon, de Akutagawa, que serviu de tema para um filme de Kurosawa. Sobre a destrutividade de uma busca de “normalidade” a qualquer preço, inibindo o processo criativo e a capacidade imaginativa, criando novos “leitos de Procusto”. Sobre o papel da atividade imaginativa como substrato da transformação. Sobre a função do humor no processo criativo. Sobre o método hermenêutico de interpretação dos símbolos na escola junguiana.. Sobre a importância das fantasias como um estado mediador entre o Umwelt e o Innenwlt, definido por Jung como, esse in anima. E, sobre o conceito de, terceira margem do rio, de Guimarães Rosa, relacionado com um estado mediador entre o consciente e inconsciente, que foi definido por Corbin de, mundus imaginalis.

O FUTURO DA PSICOTERAPIA: REFLEXÕES E PROPOSTAS – Paula Pantoja Boechat

Sinopse: O texto tece considerações sobre a psicoterapia no mundo atual, onde a exigência é de uma aceleração maior do tempo. Em conseqüência disso, estaríamos nós perdendo o respeito pelo tempo único de cada indivíduo? Estaríamos nos exigindo uma massificação dos comportamentos, e também uma falta de ética? São discutidas as técnicas de mobilização de símbolos, que podem acelerar o processo terapêutico e mostrar ao paciente seu compromisso com a doença ou a saúde. É trazido o conceito de individuação relacionada, e é resgatada a importância da psicoterapia para manter o espírito de sensibilidade humana no mundo atual.