Dulce Helena Rizzardo Briza
As freqüentes manifestações observadas no trabalho de consultório com figuras oníricas e fantasias de mutilação sob diversos aspectos e muitas situações arquetípicas constatadas em comportamentos individuais e coletivos em nossa sociedade motivaram esse livro. Para conhecermos a alma coletiva de uma nação é preciso que conheçamos seus mitos. Tanto em nossa História como em nosso imaginário – Curupira, Saci e Mula-sem-Cabeça – aparece a mutilação simbólica e concreta, como a miséria, a doença, a falta de coragem, a falta de amor. Partindo do princípio proposto por Jung – apoiado por sua vez em J. Burckhardt – de que a libido percorre sempre o mesmo caminho tanto no microcosmo (indivíduo) como no macrocosmo (cultura) e de que para ele – como para Nietzsche – o sujeito é um produto de sua cultura e, ainda, de que a cultura só se transforma com a mudança do indivíduo, este trabalho procura traçar um paralelo entre a mutilação existente na formação do indivíduo, da sociedade e na forma com que isso se expressa em nossa mitologia. Salienta ainda que, para que haja uma mudança e um crescimento, é necessária a contribuição dos psicoterapeutas, que, ao lidarem com as mutilações, trabalham no âmbito individual e coletivo para que a Sombra seja integrada à consciência e os aspectos pertencentes ao masculino (Animus) sirvam para fazer com que o Herói (Ego) ajude na liberação de aspectos femininos (Anima) positivos, que, se reprimidos na Sombra, costumam aparecer de maneira indiscriminada, destrutiva, obscura e demoníaca. A conscientização levará o indivíduo e a sociedade à libertação dos “Pais Terríveis” e fará com que a mutilação se reverta num efetivo ritual iniciático, constelando então o arquétipo do Sacrifício. E assim, donos de uma identidade, estaremos livres e amadurecidos para o exercício da cidadania e da democracia.
2006 –