Ano: 2001
Orientador: Carlos Alberto Corrêa Salles

Resumo: O nosso estudo baseia-se na pesquisa da história e mitos criados em torno de um herói riograndense: Sepé Tiaraju, assinalando o papel que ocupa na tradição de cura do RS. Índio guarani, foi líder da resistência contra portugueses e espanhóis na defesa das reduções jesuíticas existentes no RS, os chamados “Sete Povos”. Sua presença permanece viva no imaginário da população gaúcha a ponto de ser considerado um santo. Cultuado pelos gaúchos, sua presença aparece, nos processos de cura dos curandeiros do RS, como um espírito protetor que combate as forças do mal. A partir desse levantamento, procuremos saber até que ponto podemos reconhecer o mito em torno de Sepé e a prática dos curandeiros como exemplo de um processo psicóide. Buscamos esses questionamento por dois motivos básicos: primeiro, porque a prática dos curandeiros, com seus estados alterados (técnica de êxtase), nos oferece elementos do xamanismo onde está presente a unidade mente-corpo; segundo, porque suas práticas incluem o trabalho com forças míticas, que no caso do estudo feito é expresso na figura de  Sepé Tiaraju. Percebemos na prática dos curandeiros algumas características essenciais: a não separação da relação sujeito-objeto, a experiência não temporal, a superação do espaço,  uma relação sintônica entre as coisas de fora (matéria) e as coisas de dentro (psique). Todos esses aspectos exigem novos estudos e perspectivas para serem compreendidos. Encontramos na física quântica e na psicologia profunda conceitos que explicitam tais aspectos. Idéias como não-localidade, sincronicidade, formação e papel do símbolo, entre outros, são alguns desses conceitos levantados. Reconhecemos, então, que a experiência do curandeiro acontece numa zona fronteiriça que em psicologia foi postulado por Jung como inconsciente psicóide. O termo psicóide compreende a capacidade de algo ser ao mesmo tempo psíquico e não psíquico. A partir disso, procuremos demonstrar a relações entre as noções de sincronicidade, arquétipo psicóide e símbolo com as curas e práticas dos curandeiros, para evidenciar a existência desse campo intermediário e compreender psicologicamente os fenômenos descritos. Neste sentido, a experiência oferecida pelo curandeiro e pelo mito carrega uma força numinosa, ou seja, a experiência de algo maior que possui um poder tremendo e provoca uma consternação àquele que a experimenta. A experiência numinosa encerra um significado que não pode ser racionalmente abarcada, apenas podemos abrir-se para ela. Através desse universo numênico, carregado de energia, pode então Sepé se manifestar como fonte de cura e proteção. Constatamos a existência de um campo psicóide onde o processo de cura pode ocorrer. Campo psíquico/físico que consegue, na força transgressiva do arquétipo, gerar um poder transformador e, consequentemente,  oferecer uma proposta psicoterapêutica que  abarcam os fenômenos psicossomáticos. Por fim, partindo da relação entre mito, curandeiros e o inconsciente psicóide, oferecemos elementos para a teoria de um modelo de tratamento que abarque a unidade corpo-mente.

Palavras-chave: Mitologia, curandeirismo, inconsciente psicóide, simbologia e relações corpo-mente.

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