Ano: 2023
Orientador: Roque Tadeu Gui

Resumo: Há cerca de 70 mil anos a espécie humana, que pouco se diferenciava das outras espécies de grandes primatas, começou a enxergar o mundo por meio de um olhar ficcional, diferenciando-se sobremaneira de seus pares. Nossa espécie passou a nutrir-se de um mundo completamente novo, o ficcional, o que potencializou a nossa capacidade de cooperação, a ponto de chegarmos a constituir grandes comunidades, dotando-nos da habilidade de fornecer à nossa existência sentido e significado. O advento da escrita (3500 a.C – 3000 a.C) coroou a nossa capacidade de ficcionar, uma vez que, registradas, as obras ficcionais podiam ser propagadas, além de eternizadas. Esse mesmo escrever, seja de caráter ficcional ou reflexivo, tem se mostrado fértil não somente para a constituição de grandes sociedades e civilizações (tecidas e sustentadas por ficções), mas também para o indivíduo em si, provocando-lhe, possibilidades de elaborações psíquicas a respeito de sua condição humana e de sua existência. Diversos autores veem na produção ficcional escrita uma forma de o indivíduo possibilitar a si compreensões profundas acerca de sua existência, assim como fornecer cuidado a si mesmo, por meio do diálogo imaginativo com seus complexos, traumas e sofrimentos. Esta monografia se propõe a discutir e a investigar o papel da escrita para o indivíduo, enquanto ferramenta psicoterapêutica. Como metodologia para fazer tal investigação, utilizei pesquisa bibliográfica com base sobretudo nas obras de C. G. Jung (1875-1961) e de D. W. Winnicott (1896-1971), bem como a análise, alicerçada em tal pesquisa, de uma peça ficcional e do ato de ficcionar. São propostas duas tipologias do escrever, uma de natureza junguiana (escrita com e escrita sobre) e outra, winnicottiana (escritas transicional, de trânsito, e fetiche). Os achados deste estudo apontam para o efeito psicoterapêutico da atividade de escrita, no que se refere ao processamento das angústias e ao fortalecimento do indivíduo, a partir do ato reflexivo e criativo de escrever.

Palavras-chave: escrita, escrita ficcional e efeito psicoterapêutico.
Contato: antonio.rabelo256@gmail.com