Título: Sentimentos, Valores e Processo de Individuação
Ano: 2015
Orientador: Dulcinéa da Mata Ribeiro Monteiro

Resumo: A função sentimento é a responsável por dar um valor aos conteúdos da consciência visando a uma rejeição ou uma aceitação subjetiva. Um sentimento é a percepção consciente do que ocorre no corpo e na mente no curso de uma emoção, em função dos valores dados pela razão, e sempre contém algum grau de dor ou de prazer. A emoção é um conjunto de respostas reflexas do organismo a um estímulo para colocá-lo em condições que levem à sobrevivência e ao bem-estar, ocorrendo no corpo. O sentimento ocorre na mente como imagens geradas pelo mapeamento do estado corporal, é consciente e suscetível à vontade, permitindo com que se possa escolher como deve ocorrer a preservação da vida, o grande valor biológico. As escolhas dependem das prioridades, portanto, dos valores pessoais. Estes são condicionados à visão de mundo individual, a qual pode estar aprisionada nos interesses do ego, ser unilateral e estreita, ou pode estar em relação com valores transcendentes e ter superado a unilateralidade, após passar por um conflito entre opostos, ficando mais ampla e em harmonia com o Self. A identificação dos sentimentos presentes possibilita que se deduza a visão de mundo atuante, os valores individuais e quais as qualidades inconscientes e necessárias para a ampliação da consciência, porém, para que não se transite de uma unilateralidade para outra, o ego precisa estar em relação com um valor transcendente, tal como o Amor incondicional e a sua expressão, o Bem. Neste processo, por ser necessária a discriminação do que conduz ao bem e ao mal, vai-se desenvolvendo a consciência moral. Na descrição dos sentimentos pessoais, frequentemente, são usadas expressões que parecem indicar sensações corpóreas, entretanto, elas referem-se a imagens dinâmicas, logo, a sentimentos. Elas talvez estejam num sítio intermediário ao corpo e à mente, o corpo psicóide descrito por Boechat. O estudo dos sentimentos dá indícios da possível veracidade da sugestão de Jung de que corpo e mente são dois aspectos da mesma realidade. Os sentimentos negativos correspondem a uma dificuldade para se atingir a homeostasia orgânica e os positivos, a uma facilidade, e também indicam, respectivamente, haver uma desarmonia entre ego e Self e uma harmonia, criando a hipótese de que não há antagonismos entre a busca pela saúde e o processo de individuação e entre preservação material orgânica e desenvolvimento espiritual. A existência de sentimentos sociais, nos seres humanos, indica que a sobrevivência individual é vinculada à vida coletiva e coloca a vida dos humanos em relação com o todo. Direcionar-se pelo Bem (o que favorece a vida) é preservar a si e ao mundo materialmente e é poder ser íntegro (inteiro). Concluindo, escutando os nossos sentimentos podemos aprender sobre nós mesmos, descobrir sobre as nossas características negadas e nossos complexos (ativados liberam emoções, que geram sentimentos) e sobre a transformação necessária para a ampliação da consciência, propiciando a descoberta de novos valores. O processo de individuação traz consigo a renovação de valores e o desenvolvimento da consciência moral para o qual participa, ativamente, a função sentimento.