Ano: 2022
Orientador: Fabiana Lopes Binda Grazi

Resumo: O presente trabalho buscou refletir, por meio da perspectiva junguiana, sobre as contribuições das narrativas memorialistas para a transformação do complexo racial.  Inicialmente investigamos os aspectos constituintes da memória enquanto faculdade psicológica e mítico-poética e procuramos descrever a relevância dos registros memorialísticos por meio da escrita como busca de coerência e significado para existência. Constatamos que a memória individual está interligada à memória coletiva e apontamos os impactos traumáticos decorrentes do aniquilamento das memórias dos afrodescendentes em decorrência do colonialismo ao longo da nossa história. Buscou-se rever de maneira crítica o   pensamento junguiano no que se refere ao silenciamento diante das questões raciais e destacamos a necessidade de re-visão de linguagem e conceitos teóricos que se sustentam   em narrativas eurocentradas calcadas na invisibilidade dos negros e de outras minorias. Desse modo, faz-se necessário trilhar em direção da produção de conhecimentos mais abrangentes e retomar as contribuições do pensamento junguiano no que se refere às possíveis transformações do complexo racial de maneira criativa. Nesse sentido, analisou-se o romance “Becos da Memória” da escritora Conceição Evaristo, considerando a dimensão simbólica-arquetípica presente na obra e os aspectos do processo de individuação da autora. A sua obra literária, pautada no que ela própria denominou de “escrevivência”, é um exemplo de como as memórias individuais, inclusive as traumáticas, carregadas pela potência dos complexos, quando experimentadas através da função transcendente e “reeditadas” por meio da escrita, podem desencadear transformações psíquicas no campo individual e coletivo.

Palavras-chave: complexos raciais, memória, narrativa e literatura.

Contato: sipsineves@gmail.com