Cadernos Junguianos nº 12 – 2016Sumário
Editorial   5
Nossa capa   7

Artigos

A opus alquímica e o trabalho do analista
Deborah Marçal de Almeida Landucci  9

A música no setting analítico criativo: emoções, símbolos e autorregulação psíquica
Roger Naji El Khouri  26

A psicologia científica e o paradigma junguiano
Adailson Moreira  37

A eterna criança: autoestima e individuação
Fabiana Lopes Binda Grazi  53

Relações arquetípicas entre a anima de Carl Jung e a figura da Deusa primordial
Igor de Almeida Faria Bueno / Lunalva Faria Chagas  72

Atalanta fugiens e a fuga
Sibely Joaquina Pereira Lima  90

Jung e Rorschach: a relação entre os seus experimentos
Camila Alkmim Bianco  105

Crono-Saturno: o grande maléfico? Considerações sobre as manifestações arquetípicas de Crono-Saturno
Juliana Scarrone  126

Transtornos alimentares: desta vez é o pai em questão!
Marly Amorim Palavras  140

Interpretação do símbolo em Pessoa: as qualidades de Fernando Pessoa e os tipos junguianos
José Jorge de Morais Zacharias / Josiele de Oliveira Borges  156

Histórias e Memória

AJB – 25 anos
Gelson Luís Roberto / Humbertho Oliveira  172

Resenhas

Paciência
Joyce Werres  175

Orientações aos autores para publicação  178

A opus alquímica e o trabalho do analista – Deborah Marçal de Almeida Landucci

Sinopse: A escassez de trabalhos que tratam da metodologia da psicoterapia em psicologia analítica traz questionamentos sobre o trabalho do analista e a forma como esse trabalho acontece. Levando-se em consideração as características da psique como material de trabalho do analista, deve-se buscar compreender a psique no âmbito da própria psique. Para Edinger (2006), é isso o que fazemos quando tentamos compreender o processo de psicoterapia em termos de alquimia. Assim, entendemos o procedimento alquímico como uma metáfora para o procedimento analítico, e que o método do analista se aproxima do método do alquimista, abrangendo três principais aspectos: amplificatio, meditatio e imaginatio. Se é que existe um método alquímico/analítico, este deve ser um método que não pretende apenas enxergar, conhecer, entender em moldes apolíneos, mas que imagina o método e o trabalho também através de outras perspectivas míticas, ou seja, que leva em consideração aspectos arquetípicos, tanto da psique quanto do processo analítico.

A música no setting analítico criativo: emoções, símbolos e autorregulação psíquica  – Roger Naji El Khouri

Sinopse: Partindo-se da premissa de que a estrutura dinâmica e arquetípica da música pode atuar simultaneamente como temenos e como psicopompo em um processo terapêutico, este estudo valoriza seu possível papel de continente e agente facilitador da expressão de emoções e sentimentos, bem como da transformação de conflitos por meio da experiência musical e simbólica. Discute-se a influência da música na vida do homem, especialmente seu papel estimulador de conteúdos inconscientes, bem como a relação íntima de suas propriedades com a estrutura e dinâmica da psique. A revisão da literatura também inclui uma breve discussão sobre a música e a musicoterapia no setting analítico e sobre a relação entre música, emoção e a expressão de símbolos através da formação de imagens. Conclui-se que a música, através de sua estrutura formal e complexa, pode ser utilizada no setting analítico como um estímulo dinâmico para a formação de imagens, favorecendo a ativação de forças autorreguladoras psíquicas e o diálogo criativo entre a realidade interna e externa da psique.

A psicologia científica e o paradigma junguiano – Adailson Moreira

Sinopse:A psicologia científica, derivada dos estudos filosóficos, precisou aguardar a construção de um método adequado para existir. Evoluiu do pensamento mítico-religioso para a filosofia e derivou desta, surgindo como ciência e adotando uma visão mecanicista do universo. Esse conjunto de conceitos e teorias construiu o mundo moderno. Contudo, o estudo da subjetividade humana exigia um novo método, que superasse o paradigma cartesiano, o que acabou provocando a emergência de um novo método baseado em aspectos não mensuráveis e em perspectivas simbólicas e arquetípicas como forma de compreensão da realidade, não mais parcelando o indivíduo, mas entendendo-o global e holisticamente.

A eterna criança: autoestima e individuação  Fabiana Lopes Binda Grazi

Sinopse: Autoestima é o sentimento de valor que o indivíduo tem sobre si mesmo; ela se estrutura a partir dos relacionamentos que a criança estabelece nos primeiros anos de vida, especialmente com seus pais. A autoimagem que o indivíduo tem de si mesmo desenvolve-se paralelamente com a noção de identidade. A formação do ego, da sombra e da persona relaciona-se diretamente com a autoestima. Experiências de abandono que ocorram na primeira infância podem comprometer a capacidade afetiva e cognitiva, a formação da identidade e da autoestima. Para Jung, o arquétipo da criança representa a essência humana pré-consciente e pós-consciente. O arquétipo da criança possibilita a integração dos opostos, a unificação, uma transformação na personalidade que deseja realizar-se.

Relações arquetípicas entre a anima de Carl Jung e a figura da Deusa primordia– Igor de Almeida Faria Bueno, Lunalva Fiuza Chagas

Sinopse: O arquétipo é um conceito histórico do inconsciente coletivo que foi explorado profundamente por Jung. O autor pôde verificar as raízes coletivas e arcaicas do psiquismo humano e, assim, encontrar suas bases simbólicas. Um dos arquétipos mais comuns nos escritos de Jung é a anima. Esta é considerada como a porção feminina da personalidade masculina. Uma das possíveis figuras históricas da anima são as deusas, figuras míticas femininas que personificam o arquétipo em suas características. Em particular, há uma deusa primordial como deidade histórica encontrada em muitas civilizações do passado. O culto à Deusa foi muito prolongado na história da humanidade, o que confere significância arquetípica para o homem. Este texto propõe explorar os atributos da Deusa comparativamente ao arquétipo da anima, buscando sua correspondência na base desta. Encontramos características importantes entre a Deusa e a anima: elas têm uma dimensão ctônica; representam a vida psíquica; são uma ponte para a espiritualidade; possibilitam a extensão de relacionamento consigo e com o mundo; proporcionam a possibilidade de reorganização do psiquismo, como sendo um caminho para o desenvolvimento simbólico-psíquico do homem.

Atalanta Fugiens e a fuga– Sibely Joaquina Pereira Lima

Sinopse: Jung escreveu sobre o papel da música na expressão do inconsciente coletivo. Um revisitado tema de estudo é o tratado alquímico Atalanta Fugiens, do médico e alquimista Michael Maier (1568-1622), uma tentativa de musicoterapia para os problemas da época, no qual ele descreve inúmeras analogias entre alquimia, mitologia e música, por meio de textos, imagens visuais e composições musicais, tomando como base o mito grego registrado por Ovídio em Metamorfoses. O simbolismo da fuga é interpretado no mito, na alquimia e na música como representação de fenômenos psíquicos nas manifestações culturais. As estruturas musicais são articuladas às imagens arquetípicas.

Jung e Rorschach: a relação entre os seus experimentos– Camila Alkmim Bianco

Sinopse: Este artigo analisa as semelhanças e diferenças entre o teste de manchas de tinta de Rorschach e o teste de associação de palavras de Jung, considerando ambos os experimentos como instrumentos relacionais. Embora Jung não tenha tido um relacionamento pessoal com Rorschach, a evidência histórica sugere que ambos estavam cientes da teoria, técnicas e estratégias um do outro no campo da psicanálise. Um aspecto fundamental do diálogo entre Jung e Rorschach é que ambos compartilhavam Eugen Bleuler como um mentor intelectual. Assim, concentro-me em três semelhanças principais: Jung e Rorschach igualmente adotaram uma metodologia de associação livre ao escolher aleatoriamente palavras e imagens para compor seus testes, possivelmente com base em algum tipo de inspiração inconsciente; ambos os testes procuram a existência do complexo autônomo e a dinâmica psíquica; e ambos tinham uma ideia semelhante sobre a individuação, embora Rorschach tenha nomeado esse processo de forma diferente. As diferenças de identidade entre esses dois teóricos são abordadas, e conclui-se que uma interface de ambos os testes deveria ser considerada.

Crono-Saturno: o grande maléfico? Considerações sobre as manifestações arquetípicas de Crono-Saturno– Juliana Scarrone

Sinopse: Este artigo discorre sobre o arquétipo de Crono-Saturno e como ele se apresenta na psique contemporânea. Apresenta o relato do mito de Crono, oferece uma visão geral das considerações sobre Saturno na astrologia e discorre sobre o arquétipo senex-puer à luz da psicologia junguiana, utilizando as contribuições de James Hillman sobre esse assunto. Trata-se de um estudo bibliográfico.

Transtornos alimentares: desta vez é o pai em questão!– Marly Amorim Palavras

Sinopse:Os transtornos alimentares (TAs) são descritos por quadros clínicos sustentados por uma relação psicopatológica com o comportamento alimentar. Sob o ponto de vista das experiências arquetípicas primárias, a literatura já descreveu amplamente a relação patológica de pacientes com TAs com o dinamismo matriarcal responsável pelo cuidado e nutrição, caracterizando um feminino desamparado, descuidado e doente. Contudo, minha experiência clínica apontou para a necessidade de fazer uma breve reflexão sobre a relevância da figura arquetípica paterna, considerando a possibilidade desta experiência também poder contribuir para a manutenção da sintomatologia alimentar.

Interpretação do símbolo em Pessoa: as qualidades de Fernando Pessoa e os tipos Junguianos– José Jorge de Morais Zacharias, Josiele de Oliveira Borges

Sinopse: Este artigo tem por objetivo estabelecer uma ponte entre a tipologia psicológica de Carl Gustav Jung e os cinco elementos propostos por Fernando Pessoa em seu livro Mensagem, para o entendimento dos símbolos e dos rituais. Faz-se uma analogia das funções psíquicas da tipologia junguiana, as quatro operações alquímicas e os quatro elementos naturais. Pode-se observar a legitimidade dos estudos de Jung no que tange à classificação tipológica, quanto à necessidade de integração das funções para a realização da totalidade psíquica e, consequentemente, para a interpretação dos conteúdos simbólicos do inconsciente. A relaçãoda poesia com a psicologia propiciou uma compreensão amplificada de conceitos discutidos na abordagem analítica, contribuindo para a intensificação de sua obra.